Uma nova cor é capaz de mudar completame
nte a atmosfera de um ambiente. As cores têm um papel fundamental na mensagem que será transmitida para as pessoas que irão viver ou trabalhar ali.
Criar esses ambientes pode ser um grande desafio. É preciso escolher e conjugar a cor dos móveis, das paredes, do chão e pode tornar-se uma atividade assoberbante.
Para tornar esse desafio menos assustador é preciso entender as cores. As cores têm personalidades próprias e passam mensagens por si só. Normalmente, essas mensagens são analisadas e entendidas pelo nosso subconsciente. Repare que costumamos associar as cores a emoções e sensações naturalmente, quase como um impulso.
Acontece que podemos usar as sensações que as cores nos passam para compor nossos ambientes de maneira a passar sensações que queremos que passe.
O Design das Cores
Mais do que uma linguagem visual, para pensarmos no design dos espaços, as cores têm o poder de despertar sensações e influenciar a percepção do ambiente através do cérebro humano. Provocam estímulos físicos, captados pela visão, e descodificados pelo cérebro. O uso da cor, a predominância, o tom, a saturação e como a iluminação vai incidir sobre ela muda a percepção que temos do espaço em relação à dimensão, ao peso, à temperatura e desperta emoções, que condicionam, estimulam ou alteram comportamentos.
Portanto, na criação de um projeto, é preciso ter em consideração a preferência de quem vai transitar por determinado ambiente, ao mesmo tempo ter em mente qual a atmosfera que quer criar. As escolhas devem atrelar os esquemas de harmonia e combinação cromática mais agradáveis e comunicação visual, como também pensar nos aspectos psicológicos e sensoriais da cor. E, não esquecer que a percepção da cor é alterada pela iluminação. Tudo deve ser pensado em conjunto.
A relação da cor com o contexto
As cores estão completamente relacionadas à luz. A física explica a cor como uma frequência de vibração de onda eletromagnética que os olhos captam a partir da luz incidindo sobre uma superfície. Portanto, diferentes cores geram diferentes estímulos.
É importante entender este processo para pensar além do gosto pessoal em relação às cores, uma vez que transmitem uma carga sensorial enorme a partir da nossa percepção. Um exemplo clássico são cores que despertam ânimo, energia, enquanto que outras cores provocam relaxamento.
A psicóloga, socióloga e terapeuta alemã Eva Heller publicou, em 2012, o livro “Psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão”. Esta publicação vai para além das questões sensoriais imediatas da percepção das cores e, aborda ainda, as relações profundamente enraizadas na nossa sociedade entre as cores e a forma como se refletem na nossa linguagem e no nosso pensamento em relação a elas.
A psicologia das cores não envolve apenas a percepção, mas também uma construção social dos seus significados. É impossível dissociar a ideia de vermelho a alguma conotação de paixão, por exemplo, enquanto que é também uma cor dinâmica e estimulante. Esses aspectos coexistem, por isso seria simplista dizer que uma cor tem uma relação tão direta porque depende do contexto em que está a ser aplicada.
Um exemplo perfeito disso é, no contexto da língua anglo-saxónica, a expressão “feeling blue” que significa estar triste ou “estar mais em baixo”. A tristeza e a cor azul estão intrinsecamente associadas neste contexto linguístico. Ou seja, o próprio idioma cria um contexto em torno de cada cor. O contexto desta mesma cor não se aplica na língua portuguesa – apesar de se poder aplicar em Portugal nos dias de hoje graças ao efeito da globalização, mas não será uma associação tão imediata, por não se tratar da língua materna.
Este tema também é abordado n’“A interação da cor”, do artista, e professor da Bauhaus, Josef Albers. Esta obra diz-nos que a análise de uma cor será sempre feita em comparação com outra, sendo um complemento a essa ideia de que a psicologia das cores não é um conceito isolado - é uma leitura que envolve os sentidos, mas também o contexto e o repertório de quem está a ser impactado por aquela cor. Nesse sentido, é sempre bom misturar esse conhecimento para se fazer uma escolha muito mais adequada para os ambientes.
A teoria da cor na arquitetura
A cor é um elemento que faz parte do nosso mundo, não apenas no ambiente natural, mas também na arquitetura produzida pelo homem. É por isso importante entender como a cor influencia a arquitetura. Pois o cérebro processa esse ambiente colorido e julga o que percebe de forma objetiva e subjetiva. Até os invisuais são influenciados pelas suas radiações e capazes de as identificar, pois cada cor reflete uma temperatura diferente.
Isto torna o estudo da cor uma necessidade em todas as atividades que estão relacionadas com o Homem e com a melhoria das suas condições de vida. Isto torna evidente que a aplicação racional da cor pode, de facto, proporcionar um aumento substancial do bem-estar a quem dela desfruta.
As cores causam percepções e exercem sobre as pessoas uma tripla ação que devemos entender:
– A cor é vista – Impressiona, chama atenção.
– A cor é sentida – Provoca reação ou emoção, pois cada cor é capaz de se expressar.
– A cor é construtiva –cada cor tem um significado próprio e por isso mesmo, capacidade de construir uma linguagem que comunique uma ideia.
Se utilizada de forma eficiente, a teoria das cores é uma das ferramentas mais poderosas em arquitetura. As cores são uma forma de comunicação não verbal, que diz muita coisa numa fração de segundos. Elas podem num instante criar diferentes estados de espírito, expressar sentimentos, invocar uma reação emocional ou inspirar as pessoas a agirem de determinada forma.
Ilusões ópticas através da cor
Todas as pessoas estão sujeitas a ilusões de óptica produzidas pela cor e que nos influenciam na percepção da arquitetura e da vivência dos espaços.
A cor possui temperatura, peso, equilíbrio e espaço, leis que definem a sua utilização. Toda a cor tem uma ação móvel. As distâncias visuais tornam-se relativas. O campo visual torna-se elástico. Por exemplo, uma superfície preta ou uma superfície vermelha, ilusoriamente, parece aproximar-se. Ao contrário, uma superfície branca ou azul parece afastar-se.
A cor é uma força poderosa do ponto de vista sensorial que não faz só recuar e avançar, mas influência a informação que recebemos na arquitetura. O volume de um objeto pode ser alterado pelo uso da cor, assim como o seu peso. Dois objetos de igual volume, peso e forma pintados com cores diferentes parecem efetivamente distintos. Começamos a compreender de que forma a cor influencia a arquitetura.
Círculo cromático
Sabemos que o olho humano pode distinguir mais de dez milhões de cores diferentes. Existe assim uma infinidade de possibilidades quando o assunto é combinação de cores.
Para tal, criou-se a necessidade de organizar de forma racional e lógica as cores que observavam, e criar um sistema que facilitasse o seu uso de forma equilibrada. Isto levou-os a criar um círculo cromático fundamental.
Este parte da luz branca do sol que se decompõe em cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta. Essas cores são divididas em cores primárias ou fundamentais (amarelo, vermelho e azul) e cores secundárias (laranja, verde e violeta) que surgem como uma mistura das cores primárias.
Num círculo cromático, são similares as cores que ficam umas ao lado das outras, ou seja, aquelas que tem tonalidades semelhantes. Essa proximidade entre elas faz com que sejam mais simples de trabalhar e garantam bons resultados em diversos projetos de arquitetura e decoração.
O círculo cromático é um instrumento muito importante para entendermos a forma como as cores se relacionam entre si e como as podemos combinar em várias conjugações.
Assim para escolher as cores que pretende usar no seu ambiente, deve ter em consideração uma série de fatores. Deve considerar o efeito de cor de cada elemento da construção de um edifício, desde as cores terrosas dos materiais de construção primários, como madeira, pedra, tijolo e mármore, até a ampla variedade de cores disponíveis para pintura, portas, janelas, revestimentos.
Psicologia da cor
Os estudos científicos confirmam que a cor nos influencia psicológica e fisiologicamente. Um dos resultados mais impressionantes tem a ver com as conotações das cores e associações de humor a cor, que tem consistência transcultural de um indivíduo para outro e de grupo para grupo.
O grande número de estudos comparando seres humanos em todo o mundo, como homens com mulheres, crianças com adultos, leigos com arquitetos e até macacos com humanos, mostra que a cor é uma linguagem visual internacional compreendida por todos.
A sensação de uma cor e a mensagem que ela transmite são de extrema importância na criação do ambiente que se pretende para o espaço.
Se criamos um espaço com paredes, pisos e tetos de cores neutras, quando aplicamos certas cores nas diferentes superfícies, obtemos diferentes efeitos visuais. Para compreender o que estamos a dizer, seguem alguns exemplos:
1. Pintar apenas as paredes laterais vai criar a forte sensação de um espaço mais estreito.
2. Se for aplicado cor em todas as paredes, vai ficar com a perceção de um espaço mais profundo do que realmente é.
3. Quando colocada uma cor mais escura no teto, vai ficar com a sensação de um espaço mais baixo.
4. Mas se for aplicada cor à parede central do espaço, é criada visualmente a ideia de um certo “encurtamento espacial“
5. Se a ideia for diminuir a altura do espaço ou colocarmos o foco na altura do olhar do observador, então deve pintar todas as superfícies a meia altura e colocar os tons mais escuros nas superfícies superiores para conseguir o efeito desejado.
6. Caso contrário, se a parede central e o teto forem pintados com o mesmo tom, o ambiente vai expandir-se.
A cor tem assim muitas influências na arquitetura e na forma como percebemos os espaços. Também aprendemos a responder a certas cores de diferentes formas. Por exemplo, a sociedade ensinou-nos que o vermelho significa cuidado / parar / sangue, no entanto também há reações que são subconscientes.
Uma pessoa é afetada tanto pessoal quanto universalmente pelas cores no seu ambiente. Estudos traçaram certos padrões de preferência de cor que estão relacionados à idade, ao factor sócio-económico e traços de caráter.
Quanto mais jovem for uma pessoa, mais provável será que ela prefira cores mais saturadas, mas à medida que envelhece, começa a preferir cores mais claras e menos saturadas.
Ainda assim, apesar de não ser possível alterar a história pessoal de cada indivíduo em relação à cor, os conselhos que oferecemos para o seu projeto vão ao encontro das experiências de cor que afetam a grande maioria das pessoas da mesma forma.
Cor influencia arquitetura e decoração
As cores têm a capacidade de gerar diversas reações e sensações como a paixão, energia, charme, romantismo, satisfação, leveza e muito mais. Observe a seguir alguns aspectos de determinados tons e perceba a melhor forma de utilizá-los.
VERMELHO
Efeito: emocionante, estimulante
Associação:
Positivo: apaixonado, fervoroso, ativo, forte, caloroso
Negativo: intenso, agressivo, furioso, feroz, sangrento
Caráter: Vermelho é a cor mais dramática, mais dominante e dinâmica. desperta emoções e estímulos. É uma cor estimulante, cheia de energia e cria uma sensação de movimento onde é aplicada.
Um facto curioso é que o olho precisa ajustar o foco, uma vez que o ponto focal natural do vermelho fica atrás da retina. Consequentemente, o vermelho parece mais próximo do que realmente é.
Teto: intrusivo, perturbador, pesado
Paredes: agressivas, avançadas
Pavimento: consciente, alerta
LARANJA
Efeito: emocionante, estimulante, animador
Associação:
Positivo: jovial, animado, enérgico, extrovertido
Negativo: intrusivo, ruidoso
Caráter: O laranja é menos masculino do que o vermelho. Tem poucas associações negativas. Estimula o apetite e a mente, além de produzir a sensação de vitalidade, ânimo e criatividade. Pode ser aplicada nos quartos, por exemplo, para detalhes, toalhas, roupas de cama, entre outros. No entanto, pode parecer barato ou sem vigor se estiver com baixa saturação.
Teto: estimulante, que procura atenção
Paredes: quentes, luminosas
Pavimento: ativador, orientado para o movimento
AMARELO
Efeito: Torcido
Associação:
Positivo: ensolarado, alegre, vibrante, vital
Negativo: egocêntrico, gritante
Caráter: Quando puro, o amarelo é a cor mais alegre de todas. Irradia calor, alegria, inspiração e significa iluminação e comunicação.
É a cor do sol que traz consigo o otimismo e o calor para espaços pouco iluminados. Não deve ser utilizada em excesso para evitar desconforto visual, mas é perfeita para os detalhes, como cadeiras amarelas que iluminam a cómoda sem sobrecarregar o ambiente.
Teto: leve (na direção do limão), luminoso, estimulante
Paredes: Quentes (em direção ao laranja), excitantes a irritantes (se altamente saturadas);
Pavimento: Eleva, desvia;
VERDE
Efeito: retrair-se, relaxar
Associação:
Positivo: tranquilo, refrescante, natural
Negativo: comum, cansativo
Caráter: Ao contrário do vermelho, ao olhar para o verde, o olho foca exatamente na retina, o que torna o verde a cor mais repousante para os olhos. O verde pode simbolizar a natureza e traz à mente uma sensação refrescante.
As tonalidades da cor são excelentes para trazer bem-estar, serenidade, saúde e sossego aos ambientes domésticos. Pode estar presente na decoração através das plantas e dos jardins verticais.
Teto: protetor, o reflexo na pele pode ser pouco atraente
Paredes: frescas, seguras, calmas, confiáveis, passivas, irritantes se brilhantes (verde elétrico)
Pavimento: natural (se não muito saturado), macio, relaxante
AZUL
Efeito: retrair-se, relaxar;
Associação:
Positivo: Calmo, sóbrio, seguro, confortável, nobre;
Negativo: Assustador, deprimente, melancólico, frio;
Caracter: O azul parece ser transparente, húmido, fresco e relaxante. Ao contrário do vermelho, o azul diminui a pressão arterial e a pulsação de uma pessoa.
Os tons azuis promovem a sensação de confiança, otimismo, segurança. É ideal para os móveis ou armários da cozinha numa tonalidade clara se esse móvel for pequeno.
Tons profundos como azul marinho e azul cobalto, são ótimos para transmitir confiança e estão associados a qualidades admiráveis, como lealdade, paz e sucesso. Tons mais claros da cor, passam uma sensação de calma e tranquilidade.
Teto: celestial, frio, recuando (se leve), pesado e opressor (se escuro);
Paredes: Frias e distantes (se claras), encorajadoras e aprofundamento do espaço (se escuras);
Pavimento: Sensação inspiradora de movimento sem esforço (se claro), substancial (se escuro);
VIOLETA
Efeito: Subjugador;
Associação:
Positivo: Digno, exclusivo;
Negativo: Solitário, triste, pomposo, vaidoso;
Caráter: Roxo ou Violeta é uma mistura de vermelho e azul (as duas cores psicologicamente mais opostas). O roxo ou violeta pode parecer delicado e rico, ou perturbador;
Teto: Desconcertante, subjugante;
Paredes: Pesadas, avassaladoras;
Pavimento: Fugaz, mágico;
ROSA
Efeito: Animado (rosa chiclete), calmante (rosa claro);
Associação:
Positivo: Animado, calmo, íntimo;
Negativo: Muito doce, fraco;
Caráter: A cor rosa deve ser utilizada com cuidado. Geralmente é considerado feminino, mas depende muito da nuance utilizada (rosa chiclete ou rosa velha);
Teto: Delicado, confortável;
Paredes: Inibidoras da agressão, íntimas, muito doces se não acinzentadas;
Pavimento: Muito delicado, não usado com muita frequência;
CASTANHO
Efeito: subjugador;
Associação:
Positivo: Quente, seguro, estável, confortável;
Negativo: Opressivo, pesado;
Caráter: Há uma grande diferença entre madeira e tinta castanha. Em certas instituições, o castanho deve ser evitado, pois evoca associações fecais. Madeira e pedra, por outro lado, parecem muito confortáveis e quentes;
Teto: Opressor e pesado (se escuro);
Paredes: Segurança e se utilizar madeira produz combinação poderosa;
Pavimento: Estável, caloroso;
BRANCO
Efeito: Desconcertante;
Associação:
Positivo: Limpo, nítido, brilhante;
Negativo: Vazio, estéril;
Caráter: Existem muitas justificativas psicológicas e fisiológicas para não usar o branco como cor dominante, no entanto é a cor que melhor realça as outras quando estas são pontuais;
Teto: Vazio, sem objeções de design – ajuda a difundir fontes de luz e reduzir sombras;
Paredes: Neutras a vazias, estéreis, sem energia. Ajuda a espalhar a luz;
Pavimento: Inibidor de toque (não deve ser pisado);
CINZENTO
Efeito: Neutro para calmante;
Associação:
Positivo: Neutro;
Negativo: Chato;
Caráter: Cinzento não tem muita aplicação psicoterapêutica. É uma cor aborrecida se não for aplicada em materiais que lhe criem contraste, e jogos de luz e sombra;
Teto: Sombreado;
Paredes: Neutras a chatas;
Pavimento: Neutro;
PRETO
Efeito: Sinistro;
Associação:
Positivo: Profundo, abstrato;
Negativo: Masmorras, noite, tristeza, morte;
Caracter: O preto está associado ao poder opressor, às trevas e ao desconhecido. Em arquitetura, é frequentemente utilizado para fazer parecer que o volume está recuado ou destacar outras cores;
Teto: Oco para opressor;
Paredes: Sinistro, semelhante a uma masmorra;
Pavimento: Estranho, abstrato;
Evidentemente, percebemos que a cor tem um enorme poder emotivo tanto em interiores quanto em exteriores de arquitetura. Ao projetar com cores, mesmo algo tão simples ou comum como preto e branco, a devida consideração à iluminação, ao material e ao design também é fundamental.
O Atelier Bossa está à sua disposição para ajudar a tornar a sua visão em realidade.
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